Diário de Bordo
Viagens pela Beira Alta em tempos de pandemia.
“O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.”
Vergílio Ferreira (Gouveia, 1916 – Lisboa, 1996)
Alminhas
Pequenos altares relacionados com o culto dos mortos, tendo a função de solicitar, a quem junto delas passa, uma oração em favor das almas. São comuns no meio rural, com especial incidência no centro-norte do país. Datam maioritariamente dos séculos XVIII e XIX.
Oliveira do Hospital
“Dezoito luftros de annos pelejando /Toda a potencia bellica Romana, /Não pode,jà perdendo, & já ganhando, /Acabar de render o Lufitano: /Quando do centro (que ditozo!) quando /Da Beyra (ò Beyra em tudo soberana!) /Viriato empunhou (ventura eftranha!)/O cajado, que foy ceptro de Hefpanha.”
Brás Garcia de Mascarenhas (Avô, Oliveira do Hospital, Portugal, 1596 – Avô, Oliveira do Hospital, Portugal, 1656)
“Eu, infante Afonso Henriques, filho de D. Henrique, aprouve-me por boa paz de fazer este escrito de firmeza e estabilidade que firmo pelos séculos sem fim. A vós, habitantes da cidade de Seia, concedo que tenhais costumes muito melhores do que tivestes até aqui e isto tanto para vós como para os vossos filhos e toda a vossa descendência. E os homens de Seia que pagam jugada que não vão ao fossado nem ao moinho obrigados pelo senhor. E que nenhum venda o seu cavalo ou mula ou asno ou égua ou bens ao senhor da terra sem querer. Se um homem de Seia for mercar, se não for mais de duas vezes, não pague portagem”

Joaquim Tenreiro, designer ((Melo, Gouveia, 1906 — Itapira, Brasil, 1992)
“Modernist designer, painter, and sculptor Joaquim Tenreiro (1906-1992) is considered one of Brazil’s preeminent 20th-century designers. He played a key role in forging the Brazilian design identity on the international stage.”

“(…)Em 1742, segundo a Gazeta de Lisboa, demonstrou perante a corte portuguesa, na zona de Belém, a sua “Máquina do Fogo”, que as Philosophical Transactions, da Royal Society, de Londres, para a qual foi eleito membro em 1740 – haveriam de divulgar ao mundo científico uma década mais tarde. (…)Demorou quase 78 anos, até que a máquina a vapor fosse aplicada industrialmente em Portugal (1820), ao contrário do que tinha ocorrido na maioria dos países europeus. Foi autor de inventos e vários planos de melhoramento para o Reino de Portugal, escritos nas prisões da Junqueira, onde morreria em 1776, na miséria e louco, após dezasseis anos de clausura.
Em 1760 foi preso e encerrado no forte de Junqueira, por ordem do Marquês de Pombal que acreditava ser um conspirador contra o seu governo. Durante 16 anos de torturante reclusão, conseguiu achar maneira de empregar o papel pardo e o fumo da candeia, instrumentos com os quais redigiu escritos notáveis, um tratado de 28 cadernos, em que descrevia os seus inventos e investigações, acabando por enlouquecer. Os seus contemporâneos chamaram-lhe o Newton português.”
Bento de Moura Portugal, (Gouveia, 1702-Lisboa, 1776)
“Morrerás em breve. É incontestável. E quanta verdade morrerá contigo sem saberes que a sabias. Só por não teres tido a sorte de num simples encontro ou encontrão ta fazerem vir ao de cima.”
Vergílio Ferreira

Abel Manta (Gouveia, 1888- Lisboa, 1982), óleo sobre tela, 1932 Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian
Havia um fidalgo que vivia num castelo no Vale das Flores (antiga designação de Vale de Azares).
Com o fidalgo viviam sua esposa mais dois filhos, um rapaz e uma rapariga, felizes e em perfeita harmonia.
O seu filho, chegou à idade de namorar e “colher” amores, e arranjou uma namorada num lugar ao fundo do vale designado sítio do Ral, onde ia todos os dias, ver a sua amada, por um caminho que percorria a cavalo.
Num dos dias, quando se dirigia veloz ao sítio do Ral para ver a sua noiva, o cavalo assustou-se e caiu, batendo o jovem fidalgo com a cabeça numa pedra, morrendo de seguida. Tal facto foi a origem de fatídicos acontecimentos, pois a mãe do jovem desgostosa com o sucedido enlouqueceu de dor, e a irmã do jovem precipitou-se de uma janela, tendo morte imediata.
O fidalgo, pai dos jovens, desgostoso, mandou arrasar a sua casa, o castelo, e mudou o nome ao vale, que de Vale de Flores, passou para Vale de Azares.
Lenda de Vale de Azares, Celorico da Beira

Ana de Castro Osório quando jovem (Mangualde, 1872 — Sé, Lisboa, 1935)

Eduarda Lapa, óleo sobre cartão (Trancoso, 1895 — Lisboa, 1976)
“Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.
Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português mas Portugal.”
O Bandarra, por Fernando Pessoa in Mensagem, 1930.

Gonçalo Anes Bandarra (1500-1556, Trancoso)
“Era sapateiro de profissão e dedicou-se à divulgação em verso de profecias de cariz messiânico. Tinha um bom conhecimento das escrituras do Antigo Testamento, do qual fazia as suas próprias interpretações, tendo composto uma série de “Trovas” falando sobre a vinda do Encoberto e o futuro de Portugal como reino universal. “
Tereza de Valverde andava fugida pelas matas dos barrocais, com o fim de se furtar a vexames, violências e para melhor proteger a sua honra, besuntou a cara com mel misturado com terra negra e milho paínço – um soldado francês encontrou-a mas achando-a tão feia e asquerosa, nada lhe fez.
Invasões Francesas em Fornos de Algodres
Trabalho elaborado no âmbito da disciplina de Design de Edição, Licenciatura em Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Todas as fotografias-polaroid foram tiradas por mim no ano de 2021, ano em que vivi numa aldeia do Planalto Beirão, Fiais da Beira, situada entre os concelhos de Oliveira do Hospital, Seia e Carregal do Sal.




































